quarta-feira, julho 27, 2011

Administrando o tempo em paz


O tempo está cada vez mais escasso para todos nós. O mundo com tantas novidades tecnológicas por um lado nos ajuda a fazer tudo de forma mais rápida e desperdiçando menos tempo. Por outro lado, faz com que tenhamos cada vez mais coisas para fazer, além é claro, da obrigação de fazermos tudo com mais eficiência e rapidez.

Antigamente escrevíamos cartas para amigos no exterior ou em alguma cidade distante. Lembro que era prazeroso escrever em papel, fazer um desenho e enviar uma foto junto. Demorava um tempão para a resposta chegar, demorava tanto que nem ficávamos preocupados esperando a tal resposta, e era uma alegria ver o carteiro chegando. Hoje, carteiros só trazem contas para pagar. E o meio de comunicação é feito pelo computador. Escrevemos mais e-mail de trabalho do que qualquer outra coisa. Uma amiga disse um dia: “é ótimo quando você responde o e-mail, pois você passa o problema para frente, e ele só volta quando a resposta voltar”.

Mas mantenha a calma, pois há de existir uma forma de resolver essa situação de falta de tempo. A principal forma é termos a consciência de que o tempo tem duas características que não mudam nunca: o tempo não para, e nunca voltar atrás. Temos que aceitar e saber lidar com o que já passou e também administrar a falta de tempo em paz.

No momento estou numa situação de falta de tempo terrível. Parece que tudo está acontecendo ao mesmo tempo, e realmente está! O prazo para entrega desse texto está esgotado, e com calma tenho que escrever. Então as dicas que escrevo aqui são as que eu mesma estou utilizando. A primeira coisa a fazer é escrever todas as tarefas num papel. A grande vantagem de fazer uma lista é retirar as tarefas da cabeça para criar espaço e leveza para solucioná-las. Tome um tempo para refletir o que é realmente imprescindível fazer agora e o que pode ser feito depois, priorizando as tarefas. Parar para relaxar e tomar um tempo para si tem uma extrema importância durante o processo de executar tarefas. Dessa forma a mente fica mais calma e quanto mais calma, mais alerta e capaz para solucionar problemas.

Muitas vezes menos é mais. Aprendi isso com um aluno da formação para professores. Pedi para todos escrevessem os compromissos que iriam assumir durante o curso, e ele falou: “vou me comprometer a fazer ao menos o mínimo”. Pensei, como assim, vai se comprometer a fazer o mínimo? E ele complementou: “mas vou tentar ao máximo, fazer o máximo”.

Então, observe a sua lista de tarefas e comprometa-se a fazer pelo menos o mínimo que é necessário ser feito, e se puder, faça o máximo, o melhor que puder.

Sugeri para mim mesma e sugiro para você fazer uma resolução interior. No Yoga chamamos essa resolução de samkalpa, existe uma forma específica de fazer essa resolução. Deve ser uma frase curta, positiva e conjugada no presente, pois o subconsciente só capta informações

no presente. Para manter a paz sugiro algo como: “faço uma coisa de cada vez” ou “resolvo tudo em paz”. Repita seu samkalpa pelo menos 3 vezes ao dia, ou sempre que estiver ansioso para resolver algo. Respire fundo, feche os olhos e visualize-se em paz resolvendo qualquer situação que possa aparecer. Com certeza isso irá ajudá-lo.

Existem teorias que dizem que os dias não têm mais 24 horas. Chego a pensar que isso realmente pode ser verdade. Afinal não dá mais tempo de fazer tudo o que temos que fazer, quem diria fazer tudo o que queremos fazer. Mas será que a solução não seria querer menos?

Bem, talvez essa seja uma das soluções, afinal muitas vezes menos é mais. Mas no momento não tenho tempo para refletir sobre isso, vou colocar essa reflexão na minha lista de tarefas, assim o assunto não vai ficar pendurado na minha cabeça, ocupando espaço que deveria estar preenchido de paz.

Camila Reitz pratica Yoga há 18 anos, estudou no Brasil, Índia, Estados Unidos e Austrália, criou a marca Devi e ministra curso de formação para professores de Yoga. www.devi.com.br e www.yogacomcamilareitz.blogspot.com

terça-feira, julho 26, 2011

Praticamos Yoga por pura necessidade

Praticamos Yoga por pura necessidade 

Imagine tudo perfeitamente bem. Você sem questionamentos sobre o universo ou sobre sua pessoa, com todas as perguntas respondidas. Imagine-se livre para viver o seu potencial, sem medos, apegos, livre de condicionamentos, livre para viver cada momento, aceitando-se e aceitando o rumo da vida e dos acontecimentos no mundo exatamente do jeito que eles são. Imagine-se sábio.

Caso você se sinta dessa forma, não há, na verdade, necessidade de praticar Yoga, pois o que queremos, através da prática e do estudo, é chegar a este lugar de paz, compreensão, aceitação, liberdade e bem-aventurança.

Por isso, afirmo que nós, yoguis, praticamos Yoga por pura necessidade. Se em nossas vidas tudo estivesse perfeito, caso não houvesse dúvidas sobre a existência, caso não houvesse nenhuma inquietação ou ignorância sobre nós mesmos e sobre o universo, além de muitas outras perguntas sem respostas, com certeza não iríamos investir ou “gastar” nosso tempo praticando Yoga. São técnicas austeras cheias de disciplina, super-rigorosas e que, às vezes, podem até parecer uma tortura. Iríamos, sim, para a praia, encontrar nossos amigos, fazer algo mais fácil e divertido. Não quero dizer que a prática seja algo chato, mas é necessário e, principalmente, no inicio, exige bastante esforço e perseverança.
Então praticamos Yoga porque precisamos; temos uma necessidade de nos entendermos, de entendermos nosso sofrimento, de estarmos bem com nossos sentimentos e emoções, de pensarmos sobre nossas perguntas sem respostas, nosso desconforto corporal e nossa inadequação no mundo.

Você já deve ter notado que o Yoga está na moda. E que a visão e a expectativa que as pessoas que não praticam Yoga e nós mesmos temos é que os yoguis são pessoas calmas, resolvidas, sem problemas e que vivem em perfeita harmonia. Esse é o ideal, mas não é tão fácil de se chegar a ele. Afinal, a maioria das pessoas busca o Yoga visando resolver seus muitos questionamentos e seus vários problemas de saúde.
Devemos estar conscientes da grande responsabilidade para os praticantes de Yoga diante da sociedade, pois o Yoga é um estado de consciência que produz paz interior, mas é um estado em que entramos e infelizmente saímos. Quando saímos deste estado, a primeira coisa que ouvimos é a famosa frase: “mas você não faz Yoga?”.

Fácil é falar. Se Yoga fosse realmente o remédio para todos os ataques de nervosismo, toda crise de ansiedade e insegurança, com certeza todos estariam praticando. O que não é o caso. O Yoga pode, sim, ajudar muito, mas só faz efeito realmente quando dedicamos bastante tempo a ele. É uma troca proporcional: o Yoga lhe dá à medida que você dá a oportunidade a ele de mostrar seus efeitos. E tem muita gente por aí que fala mais do que pratica...

É importante lembrar que a pessoa que pratica Yoga está buscando e não necessariamente encontrou o que busca. Quando você inicia a prática de Yoga, sente muitos resultados no corpo, na respiração e na consciência. Esse primeiro passo é como uma boa faxina em uma casa abandonada. Quando você limpa uma casa abandonada pela primeira vez, vê uma grande diferença, mas, com o tempo, morando na casa, percebe que existem muitas coisas a serem consertadas e muita sujeira nos cantos. Por isso, quando iniciamos a prática do Yoga, sentimos efeitos superficiais, ou seja, mudança de postura, melhora no sono, maior conforto corporal entre outras coisas. Mas é com algum tempo de prática que podemos mudar nossos condicionamentos mais profundos, ou seja, a maneira como vemos as coisas, nosso gênio e modo de lidar com dificuldades do dia-a-dia por exemplo. É que o Yoga só produz grandes resultados quando praticado por um longo período e sem interrupção. Essa mudança é lenta e deve ser lenta para não produzir danos tanto no corpo como nas emoções; esta mudança deve ser um processo.

É ruim quando, por alguma razão, perdemos o centro, pois o Yoga se perde junto. Ficamos decepcionados e acabamos pensando que a prática não funciona porque, apesar de todo o esforço, percebemos que ainda estamos muito longe do nosso “ideal” ou das expectativas das pessoas à nossa volta. Então a melhor resposta para a pergunta “mas você não faz Yoga?” é: “imagina se eu não fizesse Yoga!”. Com certeza as coisas seriam bem piores, pois estaríamos ainda mais desequilibrados, mais inconscientes.

Durante a caminhada do Yoga, encontramos vários obstáculos, mas lembre-se de que obstáculos podem ser transpostos. Um deles é a incapacidade de se manter no estado de Yoga. Isso acontece com freqüência, pois o caminho não segue sempre na direção ao ponto aonde queremos chegar. Às vezes, temos de voltar ou ficar parados para que a transformação aconteça gradualmente e, dessa forma, possamos nos proteger de processos muito fortes que podem produzir mal-estar tanto físico como psíquico.

O caminho, às vezes, é fácil, às vezes, difícil; às vezes, damos passos largos e, muitas vezes, ficamos parados. O importante é nos mantermos atentos o tempo todo, como testemunha, observando o que acontece. E não desistirmos, pois a paz e a confiança de que tudo é da maneira como tem de ser vêm com o passar dos anos.

Durante a caminhada, vemo-nos fazendo a coisa errada, saindo do caminho. O mais importante é mantermos a atenção e tomarmos consciência de que estamos fazendo a coisa errada, afinal estamos o tempo todo fazendo um diagnóstico de nós mesmos. Em qualquer tratamento médico, o mais importante para a obtenção da cura é o diagnóstico para, assim, tomarmos o medicamento apropriado, tratarmos o que tem de ser tratado. E, nessa caminhada, é errando e tomando consciência disso que vamos aprender.

Outro obstáculo é a preguiça. Quando ela aparecer, lembre-se de que sempre nos sentimos melhor depois da prática. É a constância na prática que irá produzir o autoconhecimento e o equilíbrio interior. Sinceramente, nunca me arrependi de ter feito uma prática de Yoga, e sim de ter deixado o dia passar em branco, sem fazê-la. Tenha na memória o final de uma ótima prática, na qual você se sentiu nas nuvens ao terminar. Quando a preguiça ou o desânimo aparecerem, lembre-se desse momento feliz. Assim fica mais fácil iniciar e, depois de começar, tudo fica bem.

Basicamente o que a prática do Yoga proporciona é um treinamento para nos mantermos no momento presente, que, aliás, é o único que existe. Essa presença ajuda na concentração e na conexão entre o que pensamos e sentimos, tornando a mente mais objetiva para poder ver as coisas como elas são e não como nossos sentimentos e condicionamentos estão acostumados a encarar. Isso torna a vida mais real. Dessa forma, nós nos mantemos centrados em todas as situações e, mesmo quando escorregamos, tomamos consciência e podemos rever o que foi feito.

Tente segurar a sua ansiedade espiritual. Mantenha-se no caminho, sem expectativas, pois ele é longo. E nem sempre o caminho mais curto é o mais fácil. Às vezes, um passo para trás é, na verdade, uma longa caminhada para frente. Isso depende de você aproveitar a oportunidade de aprender. Faça sempre a prática com uma mente renovada e fresca, como se fosse algo novo e único, pois isso nos ajuda a estarmos presentes.

Ao escolher-se o caminho do Yoga, muitas disciplinas e regras são requeridas; é importante ir com calma, mudando seus hábitos de forma tranqüila, equilibrada, sem muito controle. Algo que seja de dentro para fora e não com pressão de fora para dentro. Isso é muito importante no caminho, já que tudo que controlamos demais acaba criando uma pressão interna muito grande até chegar o dia que explode! Com esse excesso de controle, muitas pessoas perdem a oportunidade de se aprofundarem no Yoga, acabam perdendo um enorme presente de Deus. Vá com calma e sempre. Mantenha-se presente e tenha uma boa caminhada!

Camila Reitz